O lixo vai falar: racismo, sexismo e invisibilidades do sujeito negro nas narrativas de Direitos Humanos

Ciani Sueli das Neves

Resumo


Este artigo tem como objetivo discutir a invisibilidade do sujeito negro nas narrativas de direitos humanos como estratégias de manutenção do racismo e do sexismo também presentes nas lutas políticas. Os direitos humanos são um processo cultural e como tal refletem a cultura da sociedade em que são forjados. Uma cultura marcada pelo projeto de dominação colonial traduz em suas diversas formas de manifestação a presença dos traços autoritários do colonialismo eurocêntrico. Assim, discutir o enfrentamento do racismo nas narrativas de direitos humanos aponta para a formulação de pressupostos epistemológicos e políticos para a promoção da dignidade humana. Para tanto, é necessário compreender a importância da incorporação da interseccionalidade de raça, gênero e classe como um instrumento capaz de viabilizar novas formas de interpretação e produção do direito de modo a viabilizar a superação dos processos de subalternização a que as mulheres negras têm sido expostas com frequência. Escolhi escrever em primeira pessoa do singular para, dessa maneira, afirmar a voz das intelectuais negras silenciadas ao longo do tempo. O método utilizado para desenvolvimento do artigo é o de abordagem dedutiva, com análise bibliográfico-documental, e se constitui como pesquisa qualitativa.

Palavras-chave


Racismo; Sexismo; Interseccionalidade; Apagamento; Superação

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v10i2.6816

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