América Latina, colonialidade de gênero e (não) binariedade: a decolonialidade como chave de emancipação da comunidade LGBTQIA+

Anna Paula Bagetti Zeifert, Fernanda Lavinia Birck Schubert, Rômulo José Barboza dos Santos

Resumo


Neste artigo, apresenta-se os processos colonizatórios na América Latina, da colonialidade decorrentes deles, e de seus impactos sobre grupos minoritários, a exemplo das populações indígenas e negras, mulheres e, especificamente, da comunidade LGBTQIA+. Buscou-se saber quais são os principais impactos dos processos colonizatórios e da colonialidade na América Latina e como a decolonialidade pode ser uma chave de emancipação e inclusão para a construção de políticas da comunidade LGBTQIA+. O objetivo geral do texto consiste em estudar a colonialidade na América Latina enquanto fator determinante para a segregação das minorias. Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se o método de abordagem hipotético-dedutivo, mediante a realização de revisão histórico-bibliográfica. Dessa forma, com base nas informações levantadas, é possível afirmar que os processos colonizatórios
na América Latina e a colonialidade, com base na dizimação dos povos indígenas, da escravização de populações negras, da institucionalização da desigualdade de gênero foram determinantes para a imposição de um sistema de gênero binário, que anulou quaisquer outras formas de manifestação de sexualidade, a pretexto de serem consideradas eventuais sodomias. Nesse contexto, os estudos decoloniais emergem como um horizonte de possibilidade para a construção de políticas públicas de emancipação, inclusão e
afirmação dos direitos humanos para os grupos minoritários pertencentes a comunidade LGBTQIA+.

Palavras-chave


Colonialidade; Decolonialidade; Desigualdade de gênero; Políticas públicas.

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v14i3.8613

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