CPI da COVID e a necropolítica desvelada: a vulnerabilidade da população brasileira como instrumento de extermínio populacional

Leonardo Bocchi Costa, Luiz Fernando Kazmierczak, Luiz Geraldo do Carmo Gomes

Resumen


Por meio deste trabalho, analisam-se os elementos informativos trazidos pelo relatório final da CPI da COVID à luz do paradigma da necropolítica. Para tal finalidade, abordam-se os motivos ensejadores da Comissão Parlamentar de Inquérito da COVID, bem como seus objetos de investigação e as conclusões preliminares trazidas pelo relatório final. Posteriormente, realiza-se uma discussão sobre a maior incidência de mortes por COVID em indivíduos marginalizados e a previsibilidade pelo Estado brasileiro da crise sanitária instalada pela situação pandêmica e a precariedade da vida humana no Brasil. Por fim, demonstra-se a omissão deliberada pelo Governo Federal brasileiro no combate à pandemia, exteriorizando a falta de planejamento estatal na prevenção, interrupção de contágio e no tratamento dos contaminados à luz de uma análise aprofundada do relatório final da CPI. Como resultado, verificou-se que o relatório decorrente da CPI da COVID exteriorizou a instrumentalização do Estado brasileiro pela lógica necropolítica de membros do Governo Federal, encarando-se a vida de indivíduos vulnerabilizados como descartáveis e dispensáveis. Diante do exposto, pôde-se concluir que a recusa pelo Governo Federal brasileiro ao investimento em direitos sociais, como o transporte, saúde e assistência social, causou diretamente milhares de mortes evitáveis durante a pandemia. Utilizaram-se como métodos de abordagem o método dedutivo e a pesquisa indireta bibliográfica e documental.

Palabras clave


CPI da COVID; Necropolítica; Pandemia pelo novo coronavírus; Precariedade da vida humana.

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v14i2.8501

ISSN 2179-8338 (impresso) - ISSN 2236-1677 (on-line)

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