A TECNOSSECURITIZAÇÃO DA VIDA

Résumé

Após o término da Guerra Fria, houve uma ampliação do conceito de segurança, alcançando domínios como o econômico, o social, o ambiental, o energético e o alimentar. Essa ampliação se fez acompanhada do “processo de securitização”, entendido dominantemente como a retirada de uma questão da política ordinária, de modo a ser tratada por medidas extraordinárias que, sob aquela política, não seriam permitidas. O processo requer uma estratégia exitosa da autoridade institucional de convencimento da audiência social de que a questão envolve uma ameaça existencial ao Estado, à sociedade ou a um domínio da vida coletiva, a exigir o tratamento extraordinário. O esvaziamento da política e a adoção de medidas extraordinárias levantam críticas de violação ao Estado de Direito, à democracia e aos direitos fundamentais. A tecnossecuritização é espécie desse processo com a ênfase que é dada à tecnologia da vigilância idealmente total, tanto como instrumento para enfrentar a pluralidade crescente de ameaças existenciais, quanto como objeto ela mesma de securitização. As críticas feitas ao processo geral de securitização aqui são ainda mais profundas. Os aparatos vigilantes operariam sob a neutralidade da lógica matemática e da “frieza” dos algoritmos. Além de uma justificação para invasão massiva da intimidade, a ideologia da tecnificação procura esconder os enviesamentos dos programas que, baseados em padrões masculinos, brancos (europeu-americanos) e heterossexuais, discriminam as pessoas que deles se desviam.