Análise da morbimortalidade na reconstrução do trânsito intestinal de pacientes ostomizados em um hospital terciário do Distrito Federal
Resumo
Estomas intestinais são anastomoses entre o tubo digestivo e a pele com a
finalidade de desviar o conteúdo entérico para o meio externo, de forma temporária ou
permanente. Estomas intestinais temporários são procedimentos comuns, realizados
tanto na urgência abdominal, quando as condições locais e gerais do paciente
impedem uma anastomose colônica primária, quanto em cirurgias eletivas, em geral
para proteção de anastomoses de alto risco de deiscência envolvendo o intestino
grosso. A reconstrução do trânsito intestinal destes pacientes requer nova intervenção
cirúrgica, com riscos de complicações e óbitos. O objetivo deste trabalho é analisar a
morbimortalidade na reconstrução do trânsito intestinal de pacientes ostomizados em
um hospital terciário do Distrito Federal. Secundariamente, a pesquisa procura avaliar
as condições que determinaram a realização dos estomas intestinais, o tempo
transcorrido entre o diagnóstico e a confecção da ostomia e o tempo entre a realização
da ostomia e seu fechamento, assim como de aspectos epidemiológicos e
demográficos relacionados. Foi realizada uma análise retrospectiva, observacional e
longitudinal dos prontuários de pacientes submetidos à reconstrução de trânsito
intestinal na unidade de proctologia do Hospital de Base do Distrito Federal (IGES-DF)
em um período de 10 anos (2013-2023). As informações colhidas foram registradas em
um protocolo pré-estabelecido. No período analisado, 120 pacientes foram elegíveis
para o estudo, dos quais 75 (62,5%) eram homens e 45 (37,5%) mulheres. Cinquenta e
cinco (45,8%) eram portadores de comorbidades, dentre as quais as mais prevalentes
foram hipertensão arterial sistêmica, diabetes tipo II, doenças autoimunes e
cardiopatias. A média de idade entre os homens foi de 55,6 anos e entre as mulheres
de 61,8 anos. Os principais estomas realizados foram as colostomias terminais (50
casos, 41,7%) e as ileostomias em alça (31 casos, 25,8%). As condições determinantes
para realização dos estomas foram as cirurgias eletivas para tratamento de neoplasias
colônicas (33,3%), especialmente as de reto, seguidas de traumatismo penetrante do
abdome em caráter de urgência. Dos 59 pacientes operados em caráter de urgência,
em 39 o tempo transcorrido entre a admissão hospitalar e o procedimento cirúrgico
pôde ser computado, tendo sido maior que 24 horas em 42,4%, o que pode ter gerado
maior necessidade de desvios de trânsito intestinal ao invés de procedimentos mais
conservadores. Dos 120 pacientes ostomizados, 97 (80,8%) foram submetidos à
reconstrução do trânsito intestinal. O índice de morbidez pós-operatória foi de 34% e a
mortalidade de 9,8%. As principais complicações pós-operatórias foram as infecções do
sítio cirúrgico, em geral associadas à deiscências de anastomoses (10,3%). O índice
geral de complicações pós-operatórias, determinadas tanto na cirurgia de confecção
das ostomias, quanto nas reconstruções do trânsito intestinal foi elevado, porém
comparável com aqueles da literatura, especialmente nacional, que chega a 58%, e
enfatiza a importância de indicações precisas para realização dessas ostomias. O tempo
médio transcorrido entre a realização da ostomia e a reconstrução do trânsito intestinal
foi maior que 12 meses em 68% dos pacientes, com impacto direto na qualidade de
vida destes pacientes.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2023.10044
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