Quando a morte é uma corresponsabilidade: uma investigação sobre vivências em uma comunidade compassiva

Victória Regina Paiva Araújo, Isabela Araújo Lima, Keyla Cooper

Resumo


Os cuidados paliativos são uma abordagem de atenção à saúde que se opõe ao modelo
biomédico, visando oferecer um cuidado abrangente e integral às pessoas com
doenças que ameaçam a continuidade da vida. As comunidades compassivas, baseadas
nos cuidados paliativos, representam um modelo de assistência que visa capacitar
comunidades para cuidar de seus membros em processo de adoecimento ou fim de
vida, integrando a responsabilidade social neste contexto. A presente pesquisa visa
discutir e suscitar reflexões a respeito das relações de cuidado estabelecidas na
atuação de cuidados paliativos em uma comunidade compassiva a partir da narrativa
de seus agentes. Adotou-se a metodologia qualitativa, utilizando os instrumentos de
observação participante e entrevista semiestruturada. Foram realizadas três visitas de
campo para observação participante, e nove entrevistas individuais com
representantes do grupo de agentes envolvidos na atuação da comunidade compassiva
estudada. Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo temática
proposta por Bardin. A partir da análise surgiram 4 categorias, sendo elas: (1)
conhecendo a prática de uma comunidade compassiva; (2) comunidades compassivas:
construindo uma organização abrangente de cuidado; (3) resquícios do modelo
biomédico; e (4) caminhos a percorrer. Na primeira categoria, os resultados
apresentam o contexto investigado, trazendo discussões acerca da implementação e
operacionalização da comunidade compassiva objeto deste estudo. A segunda
categoria revela as demandas amplas de cuidado observadas, enfatizando o papel da
comunidade compassiva na promoção de um cuidado multidimensional. Ainda nesta
categoria discute-se sobre o papel complementar dessas iniciativas frente às
responsabilidades estatais na assistência de fim de vida e a importância dos voluntários
locais. Na terceira categoria temática discute-se sobre a persistência dos pressupostos
teóricos do modelo biomédico no contexto investigado. Os resultados revelam que por
vezes ocorre um afastamento da premissa de oferecer um cuidado integrado e
descentralizado, defendido pelos cuidados paliativos, na prática da comunidade
compassiva. Por fim, na quarta categoria os apontamentos revelam a presença de
barreiras culturais no contexto investigado, além de discutir a respeito do papel das
comunidades compassivas no fortalecimento dos cuidados paliativos no Brasil.
Conclui-se que ainda são necessários avanços para integração das comunidades
compassivas na responsabilização pelos cuidados de fim de vida no Brasil,
principalmente no que tange às políticas públicas e questões culturais. Apesar dos
obstáculos ainda presentes para concretização desta estratégia, reconhece-se o
potencial desse modelo comunitário de cuidado para ampliar e democratizar o acesso
aos cuidados paliativos.


Palavras-chave


cuidados paliativos; comunidades compassivas; populações vulneráveis.

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DOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2023.9957

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