O processo de gentrificação ambiental e o microclima

Gustavo Alexandre Cardoso Cantuária, Clarianne Martins Braga Borges

Resumo


No crescimento acelerado dos centros urbanos, destaca-se o processo de gentrificação ambiental – um fenômeno que reforça a desigualdade no campo social e ambiental das cidades. Este artigo se propõe a uma abordagem teórica que enfatiza a questão da gentrificação ambiental e sua relação com as mudanças microclimáticas. Entre as modificações das condições do microclima está a substituição da cobertura natural do solo pelo ambiente construído. A retirada da cobertura vegetal, a impermeabilização e os adensamentos desorganizados do espaço influenciam o microclima urbano. Partindo dessa constatação, o objetivo do estudo é correlacionar o processo de gentrificação ambiental às mudanças microclimáticas em espaços urbanos no Distrito Federal. Interessa, portanto, examinar e aferir as relações existentes entre os fatores do processo de gentrificação ambiental e o clima urbano, o que compreende uma análise das temperaturas, das trocas térmicas, da presença de vegetação em áreas urbanas, da evapotranspiração e da morfologia urbana. O artigo percorre a metodologia de uma pesquisa de base bibliográfica, histórica, desenvolvida por meio do método hipotético-dedutivo. De modo específico, em análise qualitativa, pretende-se comprovar a hipótese de que o crescimento acelerado e desordenado do Distrito Federal poderia, de forma negativa, afetar as questões microclimáticas e amplificar o processo de gentrificação ambiental. Verifica-se, ainda, que, em tese, não seria demais considerar que o processo de aprimoramento democrático da paisagem urbana, em resposta à questão da gentrificação ambiental poderia ser estabelecido em bases inclusivas, destinadas, efetivamente, à construção plural da paisagem urbana. Seria desejável, de igual modo, que a paisagem viesse a representar a manutenção e reconstrução de áreas de vegetação, favorecendo o microclima urbano e a sustentabilidade ambiental. As ações ambientais integradas entre o poder público e o indivíduo são capazes de criar instrumentos democráticos capazes de viabilizar a realização do direito à cidade.

Palavras Chaves: Gentrificação ambiental. Microclima. Vegetação. Qualidade ambiental. Desenvolvimento sustentável.

Texto completo:

PDF

Referências


ACSELRAD, H.; CAMPELLO, C.; BEZERRA, G., (Orgs). O que é justiça ambiental?. Rio de Janeiro, Garamond, 2009. Disponível em: http://emetropolis.net/system/artigos/arquivo_pdfs/000/000/239/original/emetropolis31_resenha.pdf?1513867035. Acesso em: 04 nov. 2021.

BERNATZKY, A.; The Contribution of trees and green space to a town climate. Energy and Buildings, v. 5, n. 1, p. 1-10, 1982.

BRITES, W. F. La ciudad en la encrucijada neoliberal. Urbanismo mercado-céntrico y desigualdad socio-espacial en América Latina. urbe, Rev. Bras. Gest. Urbana [online]. 2017, vol.9, n.3, pp.573-586. Disponível em: http://ref.scielo.org/9jf3k7. Acesso em: 04 nov. 2021.

CAMARGO, A.P. CAMARGO, M.P.B. Uma revisão analítica da evapotranspiração potencial. 2000. Bragantina, Campinas, v.59, n2, pp. 125-137.

CANTUARIA, Gustavo Alexandre Cardoso. Trees and microclimatic comfort with Special Reference to Brasilia, Brazil, Tese de doutorado em Sustainable and Environmental Studies - Architectural Association School of Architecture, Londres, 2001.

CHELOTTI, Giancarlo Brugnara, SANO, Edson Eyji. Sessenta anos de ocupação urbana da capital do brasil: padrões, vetores e impactos na paisagem. Brasília: Companhia de Planejamento do Distrito Federal, 2021.

CUENYA, B. and CORRAL, M. Empresarialismo, economía del suelo y grandes proyectos urbanos: el modelo de Puerto Madero en Buenos Aires. EURE (Santiago) [online]. 2011, vol.37, n.111, pp.25-45. Disponível em: http://ref.scielo.org/v8txrp. Acesso em: 04 nov. 2021.

DIAS, F. de A., GOMES, L. A. & ALKMIM, J. K. de. 2011. Avaliação da qualidade ambiental urbana da bacia do Ribeirão do Lipa através de indicadores, Cuiabá/MT. Sociedade & Natureza, 23, p. 127-147. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1982-45132011000100011&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 04 nov. 2021.

DISTRITO FEDERAL. Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação - SEDUH. Evolução Urbana. 2019. Disponível em: https://www.geoportal.seduh.df .gov.br/mapa/#. Acesso em: 04 nov. 2021.

GLASS, R. Aspects of change, ed. Centre for urban studies. Londres, MacKibbon and Kee, 1964.

GOULD, K. A. e LEWIS, T. L. Green gentrification: Urban sustainability and the struggle for environmental justice. EUA, Routledge, 2016.

CODEPLAN. Índice Urbano de Desempenho Ambiental do Distrito Federal (IUDA-DF). Brasília, Companhia de Planejamento do Distrito Federal, 2021.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2020. IBGE Cidades. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/df/brasilia/panorama. Acesso em: 04 nov. 2021.

JENSEN, M. E.; BURMAN, R. D.; ALLEN, R. G.; Evapotranspiration and Irrigation water requirements. ASCE- Manuals and Reports on Engineering Practice, n. 79, p. 332, 1991.

JENSEN, M.E; HOWELL, T. A.; SCHNEIDERL, A.D.; History of Lysimeter Design and Use for Evapotranspiration Measurements In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON LYSIMETRY, 1991, Honolulu, Hawaii. Proceedings... New York: ASCE - American Society of Civil Engineering, 1991b. p. 456.

LLANDERT, L. R. A.; Zonas verdes y espacios libres en la ciudad. Madrid: Instituto de Estudios de Administración Local, 1982. 538 p.

LIMA, V. 2014. Análise da qualidade ambiental urbana: o exemplo de Osvaldo Cruz/SP. Geografia em Questão 18, p. 26-46. Disponível em: http://saber.unioeste.br/index .php/geoemquestao/article/viewFile/9385/7672.

NUNES, J. F.; ROIG, H. L. Análise e mapeamento do uso e ocupação do solo da bacia do Alto Descoberto, DF/GO, por meio de classificação automática baseada em regras e lógica nebulosa. Revista Árvore, v. 39, n. 1, p. 25-36, 2015.

OKE, T. R.; Boundary Layer Climate.2 ed. London, Methuem & Ltd. A., 1978.

OLIVEIRA. D. V., MANIÇOBA, R. S. Universitas Humanas, Brasília, v. 11, n. 2, p. 27-38, jul./dez. 2014

REQUIA, W. J.; ROIG, H. L.; KOUTRAKIS, P.; ROSSI, M. S. Mapping alternatives for public policy decision making related to human exposures from air pollution sources in the Federal District, Brazil. Land Use Policy, v. 59, p. 375-385, 2016.

RELATÓRIO BRUNDTLAND. Nosso Futuro Comum, 1987. Disponível em: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/5987our-common-future.pdf. Acesso em: 04 nov. 2021.

RIBEIRO, L. C. de Q., RIBEIRO, M. G (Org.). 2013. IBEU: índice de bem-estar urbano. Rio de Janeiro: Letra Capital, 265 p.

RIVERO, R.; Arquitetura e Clima: acondicionamento térmico natural. 2 ed. Porto Alegre: DC Luzzato. UFRGS, 1986.

ROMERO, MARTA ADRIANA BUSTOS. Arquitetura Bioclimática do Espaço Público. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.

ROMERO, MARTA ADRIANA BUSTOS. Arquitetura do Lugar: uma visão bioclimática da sustentabilidade em Brasília. Nova Técnica Editorial: São Paulo, 2011.

SEMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Mapa da cobertura vegetal e uso do solo do Distrito Federal. Disponível em: https://www.sema.df.gov.br/mapa-da-cobertura-vegetal-e-uso-do-solo-do-distrito-federal/. Acesso em: 04. nov. 2021.

SEMA - Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Zoneamento Ecológico Econômico do Distrito Federal - caderno técnico do zoneamento final. Disponível em: https://www.zee.df.gov.br/documentos-tecnicos-do-zee-df/. Acesso em: 04. nov. 2021.

SHINZATO, Paula; DUARTE, Denise Helena Silva. Impacto da vegetação nos microclimas urbanos e no conforto térmico em espaços abertos em função das interações solo-vegetação-atmosfera. Ambient. constr., Porto Alegre, v. 18, n. 2, p. 197-215, 2018. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-86212018000200197&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 04 nov. 2021.

TORRES, Pedro Henrique Campello. Gentrificação verde: novos debates, abordagens e agendas de luta na cidade contemporânea. e-metropolis. Nº 31, ano 8, 2017. Disponível em: http://emetropolis.net/system/artigos/arquivo_pdfs/000/000/239/original/emetropolis31_resenha.pdf?1513867035. Acesso em: 04 nov. 2021.

TORRES, Pedro Henrique Campello; VIVIAN, Mariana Motta; SANCHES, Taísa de Oliveira Amendola. Produção capitalista do espaço e meio ambiente: ativismo urbano-ambiental e gentrificação verde no Brasil. Cad. Metrop., São Paulo , v. 21, n. 46, p. 689-714, 2019 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2236-99962019000300689&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 04 nov. 2021.

UNESCO. Vegetação no Distrito Federal: tempo e espaço. Brasília, Unesco Brasil, 800 p.

UNITED NATIONS. Transforming our world: The 2030 agenda for sustainable development. A/RES/70/1, General Assembly, 2015, 35 p. Disponível em: https://www.un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/70/1&Lang=E. Acesso em: 04 nov. 2021.

UNIC-Rio de Janeiro. Centro de Informações das Nações Unidas. Estado das cidades da américa latina e caribe. Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), 2012. Disponível em: https://unicrio.org.br/onu-lanca-relatorio-sobre-cidades-latino-americanas/. Acesso em: 04 nov. 2021.

VIANNA, Elen Oliveira VV617c O Campo Térmico Urbano - Ilhas de Calor em Brasília - DF / Tese de Doutorado. Elen Oliveira Vianna; orientador Dra. Marta Adriana Bustos Romero. - Brasília, 2018.




DOI: https://doi.org/10.5102/ra.v1i2.8101

Apontamentos

  • Não há apontamentos.

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia