Democratização do orçamento público pela da legalidade, legitimidade e economicidade

Rafael Antonio Baldo

Resumo


O artigo tem o objetivo de analisar a democratização do orçamento público pelo enfoque da legalidade, da legitimidade e da economicidade, investigando a qualidade da democracia no processo decisório de alocação dos recursos escassos. Baseada no método dedutivo, a pesquisa bibliográfica voltou-se para duas questões centrais na atualidade: de um lado, as transformações do Estado como resultado de sua abertura às pressões da Sociedade e do Mercado; de outro, as alterações do regime democrático por conta da capacidade de o cidadão influir ativamente na gestão pública. Diante dessas mudanças, o orçamento se transforma numa ferramenta de poder que tem a capacidade de interferir na realidade, reforçando sua compreensão como “arena de poder” onde as forças políticas, econômicas e sociais atuam na disputa pelos recursos escassos. Enquanto o mercado instiga a eficiência através do orçamento-programa e do orçamento-desempenho, a sociedade estimula a democracia deliberativa por meio do orçamento-participativo. Ademais, o Poder Legislativo e o Poder Judiciário também interferem na elaboração e na execução do orçamento através das emendas parlamentares e da judicialização das políticas públicas. Ao conciliar essas pressões endógenas e exógenas, a racionalidade tridimensional submete o orçamento público aos testes de conformidade legal, de economicidade e de legitimidade, indicando o grau de qualidade da democracia no planejamento orçamentário em termos de accountability e responsiveness. Depois de realizar esses três testes, o artigo aponta para a inobservância da racionalidade tridimensional, considerando a desvinculação das receitas públicas, a definição genérica dos programas orçamentários e a falta de impositividade do orçamento participativo.

Palavras-chave


Orçamento público; democracia deliberativa; racionalidade tridemsional da legalidade, legitimidade e economicidade

Texto completo:

PDF

Referências


ALMEIDA, Carlos Otávio Ferreira de. O Planejamento Financeiro Responsável: Boa Governança e Desenvolvimento no Estado Contemporâneo. In: CONTI, José Maurício; SCAFF, Fernando Facury. (Coord.). Orçamentos Públicos e Direito Financeiro. São Paulo: RT, 2011.

ALMEIDA, Fábio Jacinto Barreto de; SILVA, Suylan Almeida Midlej e. Orçamento participativo: mais qualidade da democracia? Revista O&S, Salvador, v. 24, n. 81, p. 195-215, abr./jun. 2017.

AMARAL, Cláudia Tannus Gurgel do. Gestão Pública, Movimentos Sociais e Orçamento – um olhar participativo num Estado Democrático. Revista de Direito da Cidade, Rio de Janeiro, v. 03, n. 01, p. 170-197.

BARBOSA, Rui. Exposição de Motivos de Rui Barbosa sobre a criação do TCU. Revista do Tribunal de Contas da União, v. 30, n. 82. Brasília, out/dez. 1999.

BEÇAK, Rubens. O evolver da democracia moderna e o exercício da deliberatividade. Cadernos de PósGraduação em Direito: estudos e documentos de trabalho/Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 18, 2013.

BRIGHENTE, Lilian Ferraresi. Resenha da obra “Estado e economia no capitalismo, de Adam Pzreworsky. Revista Brasileira de Políticas Públicas, Brasília, v. 1, n. 1, p. 245-259, jan./jun. 2011.

BUCCI, Maria Paula Dallari. Fundamentos para uma Teoria Jurídica das Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva, 2013.

CAGGIANO, Mônica Herman. Democracia X Constitucionalismo: um navio à deriva? Cadernos de Pós Graduação em Direito: estudos e documentos de trabalho/Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011.

CONTI, José Maurício. Contas à vista: Planejamento municipal precisa ser levado a sério. Disponível: http://www.conjur.com.br/2013-set-24/contas-vista-planejamento-municipal-levado-serio. Acesso em: 18 set. 2015.

DAHL, Robert. Poliarquia: participação e oposição. São Paulo: USP.

FURTADO, J. R. Caldas. Direito Financeiro. 3. ed. Belo Horizonte: Fórum, 2012.

GIACOMONI, James. Orçamento Público. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2016.

HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e Tributário. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

HOBSBAWAM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HORVATH, Estevão. Orçamento Público e Planejamento. In: MELLO, Celso Antônio Bandeira de. (Org.). Estudos em homenagem a Geraldo Ataliba. São Paulo: Malheiros, 1997.

LOCHAGIN, Gabriel Loretto. A execução do orçamento públioc: flexibilidade e orçamento impositivo. São Paulo: Blucher, 2016.

MASHAW, Jerry L. “Accountability and institutional Design: Some Thoughts on the Grammar of Governance.” In: DOWDLE, Michael W. (Org.). Public Accountability, Designs, Dillemas and Experiences. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

MORAND-DEVILLER, Jacqueline. Vers une democracie adminsitrative deliberative consultation, concertation, participation. Cadernos de Pós-Graduação em Direito: estudos e documentos de trabalho/Comissão de PósGraduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 10, 2012.

NOVAES, Flávio Santos; SANTOS, Maria Elisabete Pereira dos. Orçamento participativo e a democratização da gestão pública municipal – a experiência de Vitória da Conquista (BA). Revista Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 48, n. 4, p. 797-820, jul./ago. 2014.

OFFE, Claus. Critérios de racionalidade e problemas funcionais da ação político-administrativa. Problemas estruturais do Estado capitalista. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.

OLIVEIRA, Régis Fernandes de. Regime constitucional do direito financeiro. In: TORRES, Heleno Taveira (Coord.). Tratado de direito constitucional tributário: estudos em homenagem a Paulo de Barros Carvalho. São Paulo: Saraiva, 2005.

PRZEWORSKY, Adam. Estado e Economia no Capitalismo. Rio de Janeiro: Relume, 1995.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e a política na transição paradigmática – A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. v. 1.

SCAFF, Fernando Facury. Sentenças aditivas, direitos sociais e reserva do possível. In: SARLLET, Ingo Wolfgang; TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direitos Fundamentais: orçamento e “reserva do possível”. 2. ed. rev. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.

TORRES, Ricardo Lobo Torres. Comentários ao artigo 165 da Constituição do Brasil. In: CANOTILHO, J. J. Gomes et al. (Coord.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva–Almedina, 2014.

TROSA, Sylvie. Gestão pública por resultados: quando o Estado se compromete. Brasília: ENAP, 2001.




DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v8i1.4616

ISSN 2179-8338 (impresso) - ISSN 2236-1677 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia