A atuação médica e as tomadas de decisões no âmbito dos cuidados paliativos
Resumo
Vivemos atualmente em contexto de aumento da expectativa de vida, o que resulta em
pacientes com doenças crônicas sendo vivenciadas por maiores períodos. Em resposta
a este cenário, surgem os Cuidados Paliativos, abordagem que visa a promoção de
qualidade de vida aos pacientes que possuem doenças incuráveis, respeitando sua
autonomia, oferecendo cuidados a sua rede de apoio e demais áreas da vida, como os
aspectos psicológicos e espirituais, além de atentar-se para possíveis perdas (físicas,
sociais), bem como considerar a finitude da vida. Entretanto, o conhecimento técnico
dos profissionais de saúde em conjunto com fatores culturais, sociopolíticos e morais
podem acarretar em conflitos vivenciados durante o acompanhamento de pacientes
em CP. Assim, esta pesquisa buscou avaliar como se dá o exercício da autonomia do
médico diante dos processos de tomadas de decisões no âmbito dos cuidados
paliativos, tendo como objetivo geral: compreender os limites e possibilidades da
autonomia do profissional de medicina no contexto em que um paciente encontra-se
em cuidados paliativos, e objetivos específicos: conhecer os impactos da relação entre
a visão técnica e os processos subjetivos do médico que realiza o acompanhamento de
pacientes em cuidados paliativos; compreender a existência de conflitos vivenciados e
qual o seu manejo por parte dos profissionais da saúde frente a retirada do suporte
vital de pacientes em cuidados paliativos. Para tanto, foram entrevistados três médicos
paliativistas com mais de um ano de atuação na área, utilizando o método qualitativo
de análise temática para a discussão dos resultados. Os dados apontam para um
contexto em que a autonomia do paliativista é perpassada por questões de diferentes
facetas, como: biológica, social, cultural, política e familiar. O que indica que a tomada
de decisão neste contexto ultrapassa a dimensão ética e técnica, tornando-se assim um
fenômeno multideterminado. No âmbito dos cuidados paliativos em que vida e morte
se tornam um processo que ocorre a partir de escolhas (plano terapêutico, retirada ou
não do suporte vital etc.), o processo de tomada de decisão se torna muito mais do
que somente um planejamento técnico visando o bem-estar do paciente e de seus
familiares. Os dados coletados indicam que este processo é atravessado pela tensão do
modelo curativista vs modelo paliativista de cuidados, uma vez que a tomada de
decisão em CP depende em larga escala do momento do referenciamento de uma
equipe para a outra. Tal referenciamento é comumente marcado pela obstinação
terapêutica e medicina defensiva, o que impacta diretamente na qualidade de vida e
finitude dos pacientes, contribuindo para o sofrimento psíquico de familiares. Além
disso, os dados indicam que a tomada de decisão por parte do profissional médico
envolve dilemas e é um processo solitário, em que a preocupação com a qualidade de
vida e de morte dos pacientes não encontra espaço para expressão e/ou
compartilhamento. Por fim, a pesquisa revelou desafios quanto à tomada de decisão
acerca da retirada do suporte vital, o que indica que no contexto de cuidados paliativos
a educação e a comunicação se tornam instrumentos fundamentais de trabalho.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.5102/pic.n0.2023.9959
Apontamentos
- Não há apontamentos.