O conceito de conduta empresarial responsável à luz dos ordenamentos jurídicos brasileiro, internacional e transnacional

Gabriel Webber Ziero

Resumo


O objetivo desse artigo é analisar a partir do conceito de conduta empresarial responsável as interações do direito brasileiro com os direitos internacional e transnacional, em particular, como essas três ordens jurídicas interagem de forma conjunta para que juntas possam determinar o que se espera da conduta empresarial. As duas primeiras seções dedicam-se a explorar o conceito de direito transnacional, analisando em particular as interações normativas entre o direito transnacional e os direitos internacional e nacional. A fim de aprofundar tal problemática, bem como contribuir para com os debates acerca do direito transnacional a partir de uma outra perspectiva, esse artigo concentra-se no conceito de conduta empresarial responsável, oriundo da esfera transnacional, o qual é apresentado de modo breve na terceira parte. Na sequência, as interações normativas entre o direito brasileiro via o princípio da função social da empresa com os direitos internacional e transnacional são analisadas à luz do conceito de conduta empresarial responsável. Visando exemplificar como tais interações ocorrem na prática, sejam elas convergentes ou divergentes, é realizado um estudo de caso no contexto da produção de soja. Por fim, conclui-se que a complexidade inerente de tais interações deve ser vista através de seu potencial transformador contribuindo para a superação de uma interpretação hermética do direito brasileiro fazendo com que parâmetros oriundos das ordens internacional e transnacional sejam também levados em consideração.

Palavras-chave


Direito transnacional; conduta empresarial responsável; função social da empresa; direito brasileiro; interações normativas

Texto completo:

PDF

Referências


ALEMANHA. Deutscher corporate governance kodex. 2015. Available in: http://www.dcgk.de//files/dcgk/usercontent/en/download/code/2015-05-05_Corporate_ Governance_Code_EN.pdf Access: 07 jul. 2016.

BENTHAM, Jeremy. The principles of international law. Available in: http://www.laits.utexas.edu/poltheory/bentham/pil/index.html. Access: 07 jul. 2016.

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Acordo de cooperação e facilitação de investimentos entre a República Federativa do Brasil e a República do Chile. 2015. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2015/acordo-de-cooperacao-e-facilitacao-deinvestimentos-entre-a-republica-federativa-do-brasil-ea-republica-do-chile Acesso em: 07 jul. 2016.

BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Acordo de cooperação e facilitação de investimentos entre a República da Colômbia e a República Federativa do Brasil. 2015. Disponível em: http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2015/acordo-de-cooperacao-e-facilitacao-de-investimentos-entre-a-republica-da-colombiae-a-republica-federativa-do-brasil. Acesso em: 07 jul. 2016.

BRASIL. Lei n. 12.651 de 25 de maio de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2012/lei/l12651.htm. Acesso em: 07 jul. 2016.

CAFAGGI, Fabrizio. New foundations of transnational private regulations. Journal of Law and Society. v. 38 n. 1, p. 20-49, mar. 2011.

D’ASPREMONT, Jean. From a pluralisation of international norm-making process to a pluralization of the concept of international law. In: PAUWELYN, Joost; WESSEL, Ramses; WOUTERS, Jan. Informal International Lawmaking. Oxford: Oxford University Press, 2012. p. 185-199.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Soja em números: safra 2014/2015. Disponível em: https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos. Acesso em: 07 jul. 2016.

FARIA, Tiago Silveira de. A influência do direito desportivo transnacional no ordenamento jurídico brasileiro: da reprodução de normas à aplicação direta pela jurisdição estatal. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 12, n. 2, p. 323-340, dez. 2015.

FINANCIAL STABILITY BOARD. Key standards for sound financial systems. Available in: http://www.fsb.org/what-we-do/about-the-compendium-of-standards/key_standards/. Access: 07 jul. 2016.

FORNASIER, Mateus de Oliveira; FERREIRA, Luciano Vaz. A regulação das empresas transnacionais entre as ordens jurídicas estatais e não estatais. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 12, n. 1, p. 395-414, jun. 2015.

GOODWEAVE INTERNATIONAL. GoodWeave generic international standard for rug producers. 2016. Available in: http://www.goodweave.org/standard. Access: 07 jul. 2016.

ORGANISATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT. Principles for corporate governance. 2015. Available in: http://dx.doi.org/10.1787/9789264236882-en. Access: 07 jul. 2016.

HALLIDAY, Terence; SHAFFER, Gregory. Transnational legal orders. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.

INTERNATIONAL CODE OF CONDUCT ASSOCIATION. The international code of conduct for private security service providers. Available in: http://www.icoca.ch/en/the_icoc. Access: 07 jul. 2016.

JANIS, Mark W. Jeremy Bentham and the fashioning of international law. American Journal of International Law, v. 78, n. 2, p. 405-418, abr. 1984.

JAYME, Erik. Identité culturelle et intégration: le droit international privé postmoderne. Recueil des Cours de l’Académie de Droit International de La Haye, v. 221, n. 9, 1995.

JESSUP, Philip. Transnational Law. New Haven: Yale University Press, 1956.

KANT, Immanuel. À paz perpetua. São Paulo: L&PM, 2010.

KIMBERLEY PROCESS CERTIFICATION SCHEME. Kimberley process certification scheme core document. Available in: https://www.kimberleyprocess.com/en/kpcs-core-document. Access: 07 jul. 2016.

KINGSBURY, Benedict; KIRSCH, Nico; STEWART, Richard. The emergence of global administrative law. Law and Contemporary Problems, v. 68, n. 15, p. 15-61, 2005.

KOH, Harold. Remarks: twenty-first-century international law-making. The Georgetown Law Journal, v. 101, n. 3, p. 725-747, may 2013.

KOH, Harold. Transnational legal process. Nebraska Law Review, v. 75, n. 1, p. 181-207, jan. 1996.

MARQUES, Claudia Lima (Coord.). Diálogo das fontes: do conflito à coordenação de normas do direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

MARQUES, Claudia Lima. Diálogo entre o código de defesa do consumidor e o novo código civil: do ‘diálogo das fontes’ no combate às cláusulas abusivas. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 45, p. 71-99, 2003.

MORAIS, Dulce Teresinha Barros Mendes de et. al. O papel do direito no contexto do desenvolvimento sustentável: uma avaliação qualitativa de programas corporativos de responsabilidade socioambiental. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 9, n. 3, p. 141-158.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000.

NIEUWENKAMP, Roel. 2016: CSR is dead! What’s next? OECD insights: debate the issues. 2016. Available in: http://oecdinsights.org/2016/01/22/2016-csr-isdead-whats-next/. Access: 07 jul. 2016.

NIEUWENKAMP, Roel. Legislation on responsible business conduct must reinforce the wheel, not reinvent it. In: LOVE, Patrick. Debate the issues: investment. Paris: OECD Publishing, 2016. p. 29-33.

NOORTMANN, Math. Transnational law: Philip Jessup’s Legacy and Beyond. In: NOORTMANN, Math; REINISCH, August; RYNGAERT, Cedric. Non-state actors in international law. Oxford: Hart Publishing, 2015. p. 57-74.

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Convenção n. 87 sobre a liberdade sindical e a proteção do direito sindical. 1948. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/liberdade-sindical-e-prote%C3%A7%C3%A3o-ao-direito-de-sindicaliza%C3%A7%C3%A3o. Access: 07 jul. 2016.

ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Diretrizes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico para empresas multinacionais. 2011. Disponível em: http://www.pcn.fazenda.gov.br/assuntos/ocde/ arquivos/2011-diretrizes-da-ocde-para-empresas-multinacionais-pt-br.pdf. Acesso em: 07 jul. 2016.

PAUWELYN, Joost; WESSEL, Ramses; WOUTERS, Jan. Informal international lawmaking. Oxford: Oxford University Press, 2012.

PEREZ, Viviane. Função social da empresa: uma proposta de sistematização do conceito. In: ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção; GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da (Coord.). Temas de direito civil-empresarial. Rio de Janeiro: Renovar, 2008. p. 197-222.

POSTIGA, Andréa Rocha. A emergência do direito administrativo global como ferramenta de regulação transnacional do investimento estrangeiro direto. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 10, n.1, p. 171-193, 2013.

ROUND TABLE ON RESPONSBILE SOY. RTRS standard for responsible soy production: version 3.0. 2016. Available in: http://www.responsiblesoy.org/wpdm-package/ english-rtrs-standard-responsible-soy-production-version-3-0/?wpdmdl=11005&ind=HSpWNlL91n4Vs8RcZTO1OPd4_KoNqepzJLBM15WD8OHulhbQfAo91WQpL3QDLFEJrb05QF2lJPWt5Jc04i5nbHigeu5l0W88hAJOkxCIH9eDMW4EU6dkelpdCLbUlcX5lO12iSr9QUUN-382mH_ yBk7sROQmXGJTbnMo8twAuGRgsoaYNB-akuI2sgKYde. Access: 07 jul. 2016.

SANTANA, Héctor Valverde; VIAL, Sophia Martini. Proteção internacional do consumidor e cooperação interjurisdicional. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 13, n. 1, p. 397-418, 2016.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução democrática da justiça. Coimbra: Almedina, 2014.

SCOTT, Craig. Transnational law as a proto-concept: three conceptions. German Law Journal, v. 10, n. 7, p. 859-876, jul. 2009

TOMAZETTE, Marlon. Internacionalização do direito além do estado: a nova lex mercatoria e sua aplicação. Revista de Direito Internacional, Brasília, v. 9, n. 4, 2012, p. 93-121.

ENVIRONMENTAL & social risk policy framework. 2015. Available in: https://www.ubs.com/ global/en/about_ubs/corporate_responsibility/ how-we-do-business/protecting-people-and-planet/ environmental-and-socialrisks/_jcr_content/par/linklist_0/link_0.2049074265.file/bGluay9wYXRoPS9jb250ZW50L2RhbS9zdGF0aWMvZ2xvYmFsL2Fib3V0X3Vicy9jb3Jwb3JhdGVfcmVzcG9uc2liaWxpdHkvdWJzLWVzci1mcmFtZXdvcmstdXBkYXRlLTIwMTYtZW4ucGRm/ubs-esr-framework-update2016-en.pdf Access: 07 jul. 2016. UNITED NATIONS. Convention on biological diversity. UN Treaty Series, v. 1760, p. 79. 1992. Available in: https://treaties.un.org/doc/Publication/CN/1996/CN.29.1996-Eng.pdf Access: 07 jul. 2016.

UNITED NATIONS. Human rights council: business and human rights: improving accountability and access to remedy. 2016. UN Doc. A /HRC/32/L.19.

UNITED NATIONS. Improving accountability and access to remedy for victims of business-related human rights abuse report of the United Nations high commissioner for human rights. Policy Objective 3. 2016. UN Doc. A/HRC/32/19.

UNITED NATIONS. Protect, respect and remedy: a framework for business and human rights: report of the on the issue of human rights and transnational corporations and other enterprises, John Ruggie. 2008. UN Doc: A/HRC/8/5.

UNITED NATIONS. Report of the special representative of the secretary: general on the issue of human rights and transnational corporations and other business enterprises, John Ruggie: guiding principles on business and human rights: implementing the United Nations protect, respect and remedy framework. 2011. UN Doc: A/HRC/17/31.

ZUMBANSEN, Peer. Neither ‘public’ nor ‘private’, ‘national’ nor ‘international’: Transnational corporate governance from a legal pluralistic perspective. Journal of Law and Society. v. 38 n. 1, p. 50-75, mar. 2011. ZUMBANSEN, Peer. Transnational private regulatory governance: ambiguities of public authority and private power. Osgoode CLPE Research Paper Series, Toronto, v. 8, n. 10, p. 1-38, 2012.




DOI: https://doi.org/10.5102/rdi/bjil.v13i3.4151

ISSN 2236-997X (impresso) - ISSN 2237-1036 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia