Precedentes vinculantes nos Estados Unidos da América e no Direito Brasileiro: um estudo comparado

Patrícia Perrone Campos Mello

Resumo


O artigo desenvolve uma análise comparada sobre o significado e o modo de operar com precedentes judiciais no direito norte-americano (pertencente à família do common law) e no direito brasileiro (de origem romano-germânica), com o propósito de identificar categorias e institutos que auxiliem a compreensão da prática brasileira, a partir de um país com tradição nessa matéria. Com esse objetivo, três aspectos essenciais da operação com precedentes foram analisados e confrontados: (i) o conteúdo vinculante dos precedentes em cada sistema; (ii) o processo colegiado de decisão das cortes constitucionais; e (iii) a diferenciação entre ratio decidendi e obiter dictum. O exame dessas categorias revela que não há perfeita correspondência entre os binding precedents norte-americanos e os precedentes vinculantes brasileiros. O próprio significado de precedente vinculante, no Brasil, encontra-se, ainda, substancialmente indeterminado. Há discussão sobre a eficácia vinculante da ratio decidendi, não se diferencia com precisão ratio decidendi de obiter dictum e o processo decisório da corte constitucional não contribui para o esclarecimento desses elementos. A indeterminação constitui uma ameaça à efetividade da força normativa dos precedentes e indica a necessidade de aperfeiçoamentos institucionais do Judiciário brasileiro e, sobretudo, de um sistema de formação e de incentivos para que os magistrados adiram à prática.

Palavras-chave


Precedentes vinculantes, direito comparado, ratio decidendi

Texto completo:

PDF

Referências


ALEXANDER, Larry. Constrained by precedent. Southern California Law Review, Los Angeles, v. 63, p. 1-64, nov. 1989.

ALEXY, Robert; DREIER, Ralf. Precedent in the Federal Republic of Germany. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur L. (Org.). Interpreting Precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

BARROSO, Luís Roberto. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no Brasil contemporâneo. Revista da Faculdade de Direito UERJ, Rio de Janeiro, v. 2, n. 21, jan./jun. 2012. Disponível em: http:// www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/view/1794/2297. Acesso em: 20 ago. 2016.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2015.

BARROSO, Luís Roberto. Reflexões sobre as competências e o funcionamento do Supremo Tribunal Federal. 2014. Disponível em: http://www.luisrobertobarroso.com.br/ wp-content/uploads/2014/08/Mudancas-no-funcionamento-do-STF.pdf. Acesso em: 20 ago. 2016.

BARROSO, Luís Roberto. Prudências, ousadias e mudanças necessárias ao STF. 2010. Disponível em: http://www. conjur.com.br/2010-dez-28/retrospectiva-2010-prudencias-ousadias-mudancas-necessarias-stf. Acesso em: 20 ago. 2016.

BAUM, Lawrence. The supreme court. Washington: CQ Press, 2007.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia judicial versus diálogos constitucionais: a quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição? Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2012.

BUSTAMANTE, Thomas da Rosa. Teoria do precedente judicial: a justificação e a aplicação das regras jurisprudenciais. São Paulo: Noeses, 2012.

CALDEIRA, Gregory A.; WRIGHT, John R. Organized interest and agenda setting in the U.S. Supreme Court. American Political Science Review, v. 82, 1988.

COLE, Charles D. Stare decisis na cultura jurídica dos Estados Unidos. O sistema de precedente vinculante do common law. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 87, n. 752, jun. 1998.

CROSS, Frank B. Political science and the new legal realism: a case of unfortunate interdisciplinary ignorance. Northwestern University Law Review, v. 92, n. 1, p. 251-326, 1997/1998.

EPSTEIN, Lee; KNIGHT, Jack. Documenting strategic interaction on the U.S. Supreme Court. 1995. Disponível em: http://epstein.wustl.edu/research/conferencepapers.1995APSA.pdf. Acesso em: 20 ago. 2016.

EPSTEIN, Lee; KNIGHT, Jack. The choices Justices make. Washington: CQ Press, 1998.

FALCÃO, Joaquim; CERDEIRA, Pablo de Camargo; ARGUELHES, Diego Werneck. I Relatório Supremo em Números: o múltiplo supremo. Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, 2011. Disponível em: http://www.fgv.br/supremoemnumeros/relatorios/i_relatorio_do_supremo_em_numeros_0.pdf. Acesso em: 20 ago. 2016.

FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. São Paulo: Globo, 2012.

FREIRE, Alonso Reis Siqueira. A comparação no direito constitucional: metodologias, abordagens, tipos de pesquisa e princípios de inferência orientada para pesquisas small-n. Mimeografado, 2014.

FRIEDMAN, Barry. The politics of judicial review. Texas Law Review, v. 84, p. 257, 2005.

GICO, Ivo T. A tragédia do judiciário: subinvestimento em capital jurídico e sobreutilização do Judiciário. 2012. Disponível em: http://works.bepress.com/ivo_teixeira_gico_junior/53/. Acesso em: 2 set. 2016.

GUEDES, Jefferson Carús. Igualdade e desigualdade: introdução conceitual, normativa e histórica dos princípios. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

LLEWELLYN, Karl. The common law tradition: deciding appeals. Boston: Little, Brown and Company, 1960.

KOMÁREK, Jan. Reasoning with previous decisions. In: ADAMS, Maurice; BOMHOFF, Jacco (Ed.). Practice and theory in comparative law. Cambridge: Cambridge Univesity Press, 2012. p. 49-73.

KORNHAUSER, Lewis A.; SAGER, Lawrence G. The one and the many. California Law Review, v. 81, n. 1, p. 1-61, jan. 1993.

MALTZ, Earl. The nature of precedent. North Carolina Law Review, Chapel Hill, v. 66, jan. 1988.

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

MARSHALL, Geoffrey. What is binding in a precedent. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur (Org.). Interpreting precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur (Org.). Interpreting Precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

MENDES, Conrado Hübner. Desempenho deliberativo de cortes constitucionais e o STF. In: MACEDO JR., Ronaldo Porto; BARBIERI, Catarina Cortada Barbieri (Org.). Direito e interpretação: racionalidade e instituições. São Paulo: Saraiva, 2011.

MONAGHAN, Henry Paul. Stare decisis and constitutional adjudication. Columbia Law Review, Nova Iorque, v. 88, maio 1988.

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Nos Bastidores do STF. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

MELLO, Patrícia Perrone Campos. O Supremo e os precedentes constitucionais: como fica a sua eficácia após o Novo Código de Processo Civil. Universitas Jus, Brasília, v. 26, n. 2, jul./dez. 2015.

MELLO, Patrícia Perrone Campos. Precedentes: o desenvolvimento judicial do direito no constitucionalismo contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.

RE, Edward D. Stare decisis. Revista de Processo, São Paulo, v. 19, n. 73, jan./mar. 1994.

RUIZ MIGUEL, Alfonso; LAPORTA, Francisco J. Precedent in Spain. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur (Org.). Interpreting Precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

SCHAUER, Frederick. Precedent. Stanford Law Review, Palo Alto, v. 39, p. 571-605, fev. 1987.

SEGAL, Jeffrey A.; SPAETH, Harold J. The Supreme Court and the attitudinal model revisited. Nova Iorque: Cambridge University, 2002.

SILVA, Alexandre Garrido da. Minimalismo, democracia e expertise: o Supremo Tribunal Federal diante de questões políticas e científicas complexas. Revista de Direito do Estado, Rio de Janeiro, n. 12, out./dez. 2008.

SILVA, Virgílio Afonso da. Deciding without deliberating. International Journal of Constitutional Law, v. 11, n. 3, p. 557-584, jul. 2013.

SILVA, Virgílio Afonso da. O STF e o controle de constitucionalidade: deliberação, diálogo e razão pública. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, n. 250, p. 197-227, 2009.

SOUZA NETO, Cláudio; SARMENTO, Daniel. Direito constitucional: teoria, história e métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2013

SUMMERS, Robert S. Precedent in the United States (New York State). In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur (Org.). Interpreting precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

SUNSTEIN, Cass. One case at a time: judicial minimalism on the supreme court. Cambridge: Harvard University, 2001

TARUFFO, Michele; LA TORRE, Massimo. Precedent in Italy. In: MACCORMICK, D. Neil; SUMMERS, Robert S.; GOODHART, Arthur (Org.). Interpreting Precedents: a comparative study. England: Dartmouth Publishing Company Limited Ashgate Publishing Limited, 1997.

THE ECONOMIST. Brazil’s supreme court: when less is more. 2009. Disponível em: http://www.economist.com/node/13707663. Acesso em: 2 set. 2016.

THOMAS, E. W. The judicial process: realism, pragmatism, practical reasoning and principals. Nova Iorque: Cambridge University, 2005.

TUCCI, José Rogério Cruz e. Precedente judicial como fonte do direito. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

VENANCIO FILHO, Alberto. Das arcadas ao bacharelismo: 150 anos de ensino jurídico no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2011.

WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et. al. Primeiros comentários ao novo código de processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.




DOI: https://doi.org/10.5102/rdi/bjil.v13i3.4236

ISSN 2236-997X (impresso) - ISSN 2237-1036 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia