Corte Interamericana de Direitos Humanos - Opinião Consultiva 4/84 – a margem de apreciação chega à América.

Paloma Morais Corrêa

Resumo


O Movimento Internacional dos Direitos Humanos desafia o conceito clássico de soberania estatal. Em contrapartida, os argumentos em defesa da soberania representam um obstáculo aos movimentos de universalização e regionalização dos direitos humanos. Este artigo realiza uma análise qualitativa jurisprudencial, doutrinária e documental acerca do desenvolvimento de uma doutrina de deferência na supervisão internacional de direitos humanos – a margem de apreciação. Tal teoria foi criada pela jurisprudência da Corte Europeia de Direitos Humanos com o objetivo de preservar a discricionariedade dos Estados na implementação de normas internacionais de direitos humanos. Na jurisprudência do Sistema Interamericano, a margem de apreciação ganhou espaço na Opinião Consultiva 4/84, que discutia mudanças constitucionais no processo de naturalização de estrangeiros na Costa Rica. Este artigo tem o objetivo de analisar o único momento no qual a Corte Interamericana de Direitos Humanos aplicou a teoria da margem de apreciação, teoria essa que, no continente Europeu, revela-se parte integrante do raciocínio jurídico. O estudo indica que a margem de apreciação como mecanismo de defesa da soberania estatal foi utilizado pelo Sistema Interamericano de forma mais cautelosa da que tem sido observada no Sistema Europeu. Criticamente, demonstrar-se-á que a utilização da doutrina da margem de apreciação nas decisões dos tribunais internacionais revela a superficialidade do comprometimento das democracias liberais com os direitos humanos.
Palavras-chave: soberania, direitos humanos, margem de apreciação.

Palavras-chave


Direito Internacional, Sistema Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos

Texto completo:

PDF

Referências


AMOS, Merris. Human Rights Law. Oxford and Portland:

Hart Publishing, 2006.

BAKIRCIOGLU, Onder. The Application of the Margin

of Appreciation Doctrine in Freedom of Expression

and Public Morality Cases. German Law Journal, v.8,

n.7, p.711-734, 2007.

BOYLE, Kevin. Human Rights, Religion and Democracy:

The Refah Party Case. Essex Human Rights Review,

Essex, v. 1, n. 1, p. 1-16, jul. 2004. Disponível em:

. Acesso

em: 24 out. 2006.

CÂMARA DOS LORDES DO REINO UNIDO 56.

A and Others v Secretary of State for the Home Department.

Sentença de 16 de dezembro.

CAVANAUGH, Kathleen. Policing the margins: rights

protection and the European Court of Human Rights.

European Human Rights Law Review, Londres, n. 4, p. 422-

, 2006.

CHARLESWORTH, H., CHINKIN, C. The Boundaries

of International Law: a feminist analysis. Manchester:

Manchester University Press, 2000.

CONSELHO DA EUROPA. Convenção para a Proteção

dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, de 4 de

novembro de 1950.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Caso Linguístico Belga. Sentença de 23 de julho, 1968.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Aksoy v Turquia. Sentença de 18 de dezembro, 1996.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS. B

v França. Sentença de 24 de janeiro, 1992.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Brannigan e McBride v Reino Unido. Sentença de 26 de

maio, 1993.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Brogan v Reino Unido. Sentença de 29 de novembro, 1988.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Convenção Americana sobre Direitos Humanos, 22 de novembro

de 1969.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Cossey v Reino Unido. Sentença de 27 de setembro, 1990.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Frette v França. Sentença de 26 de fevereiro, 2002.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Goodwin v Reino Unido. Sentença de 11 de julho, 2002.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Handyside v Reino Unido. Sentença de 7 de dezembro,1976.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Irlanda v Reino Unido. Sentença de 18 de janeiro, 1978.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Lawless v Irlanda. Sentença de 14 de novembro, 1990.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Otto-Preminger Institute v Áustria. Sentença de 20 de setembro,

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Partido Comunista Unido da Turquia e outros v Turquia. Sentença

de 30 de janeiro, 1998.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Partido Refah (O Partido do Bem-Estar e outros v Turquia).

Sentença de 13 de fevereiro, 2003.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Rees v Reino Unido. Sentença de 17 de outubro, 1986.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS. Sheffield

e Horsham v Reino Unido. Sentença de 30 de julho, 1998.

CORTE EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS.

Wingrove v Reino Unido. Sentença de 25 de novembro,

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS.

Opinião Consultiva sobre propostas de emendas aos

dispositivos constitucionais que regem a naturalização na Costa

Rica, Opinião nº 4/84. Parecer de 19 de janeiro de 1984.

COSTA RICA. Constituição Política da República, de 8 de

novembro de 1949.

DEL MORAL, Ignacio de la Rasilla. The Increasingly

Marginal Appreciation of the Margin of Appreciation

Doctrine. German Law Journal, v.7, n.6, p. 611-624, 2006.

DELMAS-MARTY, M. Trois défis pour um droit mondial.

Paris: Éditions Du Seuil, 1998.

FELDMAN, David. Civil Liberties and Human Rights in

England and Wales. 2. ed. Oxford: Oxford University

Press, 2002.

FENWICK, Helen. The Anti-Terrorism, Crime and Security

Act 2001: A Proportionate Response to 11 September?

Modern Law Review, Londres, v.65, n.5, p. 724-

, 2002.

KLUG, Francesca. Values for a Godless Age: The story of

the United Kingdom´s Bill of Rights. Londres: Penguin

Books, 2000.

LAFER, Celso. A Reconstrução dos Direitos Humanos: Um

diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São

Paulo: Companhia das Letras, 1998.

LETSAS, George. Two Concepts of the Margin of Ap-preciation. Oxford Journal of Legal Studies, Oxford, v.26,

n.4, p.705-732, 2006.

MCGOLDRICK, Dominic. Multiculturalism and its

Discontents. Human Rights Law Review, Oxford, v. 5, n.

, p. 27-56, 2005.

NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos,

de dezembro de 1948.

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS.

Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, abril

de 1948.

ORSYTHE, David. Human Rights in International Relations.

ed. Cambridge: Cambridge University Press,

SAMUELS, Harriet. Methodological Approaches by the

Courts to the Human Rights Act 1998; Examples of the

Convention´s Application. Some Introductory Principles. Faculdade

de Direito da Universidade de Westminster, (aula).

Londres, 7 de novembro de 2006.

SILVA, Almiro Couto e. Poder Discricionário no Direito

Administrativo Brasileiro. Revista de Direito Administrativo,

Rio de Janeiro, v.179, n.80, p.51-92, jan./jun.

SHANY, Yuval. Toward a General Margin of Appreciation

Doctrine in International Law? European Journal of

International Law, Florença, v.16, n.5, p. 907-940, 2005.

TANCA, Antonio. Human Rights, Terrorism and Policy

Custody: The Brogan Case. European Journal of International

Law, Florença, v.1, n.1, p.269-277, 1990.

TOMKINS, Adam. Readings of A v Secretary of State

for the Home Department. Public Law, Londres, n.2,

p.258-266, 2005.

TRINDADE, A.A Cançado. La Nueva Dimensión de

las Necesidades de Protección del Ser Humano en el

inicio del Siglo XXI. In TRINDADE, A.A Cançado e

RUIZ DE SANTIAGO, J. (Ed.). La Nueva Dimensión de

las Necesidades de Protección del Ser Humano en el inicio del

Siglo XXI. 3.ed. São José da Costa Rica: ACNUR, 2004.




DOI: https://doi.org/10.5102/rdi.v10i2.2581

ISSN 2236-997X (impresso) - ISSN 2237-1036 (on-line)

Desenvolvido por:

Logomarca da Lepidus Tecnologia